domingo, 27 de dezembro de 2009

Pseudo.

Vento, o mais delicioso e perfeito dos abraços. No vento, o mais ferozmente batalhado dos passos. De onde vem, para onde vai? Só importa é que passa! A mais bela das passagens. O passar é seu segredo, e não a origem, e não o destino, somente a viagem! Que importa o futuro? De que adianta a história? Só importa é o presente, quiçá o gerúndio. Vento passando, amando, sorrindo, levando sem maldade... Suave ou forte, zumbindo, cantando. Que leve o pó para o infinito, a alma à eternidade.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Monossílabos.

Hoje já tenho certeza de que nasci apenas para entrelaçar-me entre uma celeuma de palavras soltas, em quantidade – sem modéstia – enorme, tal como faz um felino com um novelo de lã. Tenho a mais absoluta certeza de que não fui agraciado por meus genes com o dom de colocar essas palavras em ordem, e compor uma bela prosa. Não sinto ausência de palavras, mas de um encaixe... Se não for um encaixe hermenêutico, é então puramente fonético, mas dele careço.
Contudo, esta lógica (ou a falta dela) não se aplica a minha relação com os monossílabos. Deles, pois, sei fazer uso, talvez muito ligado ao pragmatismo que cultivo. Aliás, sobre isto só convém pensar o quanto um monossílabo bem usado pode ser eficaz na tarefa de fazer desmoronar o ego de uma pessoa, aniquilar até mesmo sua mais pífia esperança... Ou não? Além do mais, não é perfeitamente possível nascer para uma coisa e fazer outra?

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Nunca o 'quase tudo' dará a mesma sensação de paz que o 'tudo'.

A completude é um dos anseios que permeia o cotidiano humano. É difícil nos conformarmos com algo que não esteja completo. A sensação de incompletude nos causa uma espécie de repulsa, desconforto...
Queremos sempre um objeto completo, um trabalho completo, um dia completo (sol completo!) ou um amor completo. Muitos INCOMPLETOS reunidos sempre valem menos que um único COMPLETO.
Talvez porque somos INCOMPLETOS, nosso PAR acaba por ser o COMPLETO.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Senhor do destino

José trabalhava todo dia, sem cessar. Parecia feliz, mas não era. Suas lágrimas, sorrateiramente, dissolviam-se em seu suor. Suava o sal que ajudava a encarecer o rancho. E para quê? Trabalhava, apenas, para fatigar seu corpo, ainda mais. E para quê? Sequer perguntava. Mais perguntas, menos tempo, mais peso. Menos dinheiro. Menos risadas. Menos abraços. Menos vida. Vida? Trabalho, cansativo, incessável. José. Objeto, instrumento, força, crescimento. Não seu, alheio. Casa, gastos, tempo, morte.